15 de abril de 2014

42 parques eólicos estão com cronograma em atraso no CE

arte1504A velocidade de construção dos parques eólicos no Ceará parece soprar no sentido oposto à velocidade dos ventos que movem os aerogeradores já em operação no Estado, pelo que indica o Acompanhamento das Centrais Geradoras Eólicas publicado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em março deste ano. O documento mostra que, dos 54 empreendimentos previstos por leilões para instalação em cidades cearenses, 42 encontram-se com o cronograma de implantação atrasado.
Em tempos de barragens secas e de busca constante por fontes alternativas para a geração de energia - que tornam os argumentos de crise energética cada vez mais constantes Brasil afora -, a inoperância destas usinas eólicas resulta em uma perda de 1.044,6 megawatts (MW) de potência, os quais deveriam ir direto para o Operador Nacional do Sistema (ONS) e sanar problemas de abastecimento de energia pelo País.
Entre fevereiro e março, meses nos quais a reportagem acompanhou o relatório publicado mensalmente pela Aneel, 18 parques eólicos adiaram o início da operação para abril, enquanto outros cinco foram mais longe e pediram revisão do funcionamento para junho e um outro para agosto deste ano, cinco meses depois da data inicial.
Assim, o relatório indica, hoje - é bom frisar diante de tanta remarcação -, que 27 parques eólicos devem entrar em funcionamento até o fim deste ano. Para 2015, outros 23 são esperados e mais quatro para 2016.
Canteiro e planta atrasam
O arquejante vento que provê o desenvolvimento destas eólicas ainda se estende desde o canteiro de obras, nos projetos já em construção por municípios do litoral do Ceará, até os escritórios administrativos e de engenharia, locais onde a planta dos projetos é arquitetada.
Entre os 54 parques definidos para o Estado por leilões desde 2009, 25 estão em construção e outros 29 seguem em outorga - onde procedimentos de licença e autorizações são solicitadas a órgãos do setor energético e também ambientais.
O problema é que dos 25 que já contam com canteiro de obras implantado, apenas dois encontram-se dentro do prazo. Situação semelhante e tão grave quanto esta, refere-se a outra categoria de empreendimentos, a qual apresenta dez projetos, cujos cronogramas estão dentro dos prazos estipulados nos leilões.
Multas e acompanhamento
Os ventos contrários - e, pelo visto, até mais fortes que os movedores dos cataventos cearenses -, no entanto, rendem também punições aos empresários responsáveis pelos projetos atrasados pela agência reguladora.
No último ano, de acordo com balanço solicitado pela reportagem à Aneel, sete autos de infração foram emitidos para os parques eólicos com andamento fora do prazo no Ceará. Os dados foram encaminhados pela Agência Reguladora dos Serviços Públicos do Estado (Arce). Segundo a assessoria de imprensa da Agência, "o atrasado está passível de multa administrativa que pode chegar até 2% do faturamento anual da empresa".
Potencial se mantém
Apesar dos problemas, o setor de produção de energia eólica do Brasil tem no Ceará um grande mercado. Balanço realizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) aponta o Estado como responsável por 34% da geração deste tipo de energia em janeiro.
Ao todo, foram 763 MW em capacidade instalada no primeiro mês do ano no País, dos quais as 30 eólicas foram responsáveis por 246 MW.
Investidor já prefere investir em outros estados
Seja pelo gargalo logístico apontado pela presidente da Abeeólica, seja pela falta de apoio reclamada pelos empresários, alguns investidores cearenses já estão preferindo sair daqui e focar na construção de novos parques eólicos em estados próximos, como o Rio Grande do Norte e a Bahia - cujo potencial eólico é tão grande quanto o do Ceará. O movimento já foi noticiado e é observado também pelo consultor em energia João Mamede Filho, que diz conferir esta fuga, inclusive, entre os clientes para os quais presta serviço.
"Tenho visto reclamações de que a implantação de parques eólicos e indústrias voltadas para o setor tem sido muito maior nos estados vizinhos e isso tem facilitados muito a vida deles (investidores)", conta.
Esse comportamento, segundo o consultor, é adotado com mais facilidade pelos empresários que possuem despesas maiores - e, consequentemente, rendimentos e investimentos tão grandes quanto. No fim das contas, além do atraso, o cenário futuro acaba sinalizando para o Ceará também a falta de investidores, o que preocupa a todos.
"Infelizmente, nos últimos leilões, o Ceará passou do topo da lista de parques arrematados para o meio e chegou ao fim", lamenta o consultor.
'Agilidade deve ser maior'
Como forma de driblar e reverter estes indicadores de um futuro ruim, Mamede aponta para o fim da burocracia como a possibilidade mais viável e também a mais necessária para o Ceará. "As questões junto aos órgãos do Meio Ambiente são fortes e afetam mais as obras paralisadas no setor eólico", aponta.
'Burocracia gera atraso'
Ele garante que "a penalidade para quem atrasa é muito grande e eles (empresários) não fazem isso porque querem". Para Mamede, "a burocracia é uma coisa que alimenta este cenário e, somada ao problema de comprar/produzir os equipamentos", forma a série de fatores prejudiciais. "Tudo isso afeta desde o começo, quando o leilão acontece, e faz o investidor receber a outorga já com meses de atraso para o projeto", afirma. (AOL)

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