20 de janeiro de 2015

COMITÊ DA SECA Colapso da água pode se dar antes do Carnaval

Fortaleza. A capacidade hídrica para o abastecimento de Crateús deverá se esgotar até o dia 10 de fevereiro próximo. Em outras cidades, somente a perfuração de poços poderá atender às demandas das comunidades, sendo que as residentes nas zonas rurais já são as que mais se ressentem dos efeitos da seca.
Image-0-Artigo-1781127-1Esse foi um dos principais pontos de debate na reunião do Comitê Integrado da Seca, realizada ontem, na sede do comando do Corpo de Bombeiros do Ceará. O encontro, fugindo à tradição desde que foi criado o grupo intersetorial de trabalho, foi realizado a portas fechadas, podendo a imprensa apenas registrar imagens dos participantes. Estiveram ausentes representantes do Exército e da Cogerh.
Com uma duração de mais duas horas, a reunião produziu "desabafos", como disse o prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo, dos gestores e de representantes dos municípios. No caso de Crateús, o coordenador da Defesa Civil do município, Teobaldo Marques, disse que o temor maior é que toda a cidade entre em colapso bem antes do Carnaval. A solução para o abastecimento seria a instalação da adutora proveniente de Varjota, mas ele informou que as obras estão atrasadas.
O prefeito Celso Crisóstomo disse que saía da reunião pessimista com relação à zona rural. Ele lembrou que os açudes estão secando e isso inviabiliza o funcionamento das adutoras e até mesmo o serviço emergencial dos carros-pipas.
"A solução para a zona rural é a perfuração de poços. Para as cidades, a transposição. O problema é que as medidas emergenciais estão esbarrando em burocracias e demoras no atendimento", disse o gestor. Ele lembrou que Canindé tem um gasto de R$ 146 mil com gerador, uma vez que o bombeamento de água não está sendo disponibilizado pela energia elétrica fornecida pela Coelce.
Milho
Apesar de boa parte do encontro dos representantes do Comitê tenha reclamado ações urgentes para resolver o problema do abastecimento da água, a pauta inicial era para reservar ampla discussão para o fim do subsídio do milho, que chegou a custar R$ 23,00 a saca até 31 de dezembro do ano passado. Atualmente, a saca custa R$ 32,50, num aumento de 41%.
A ideia é que os prefeitos e mais representantes das classes produtoras, como o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, pudessem sugerir saídas para os problemas que afetam a economia cearense, especialmente a pecuária, que necessita do produto para a alimentação animal. Sobre esse tema, foi deliberado que será produzida uma minuta a ser encaminhada ao Ministério da Agricultura, solicitação uma reedição da portaria que concedia o subsídio. Segundo Flávio Saboya, o problema do milho, que trará impactos imediatos para os produtores do leite, afeta especialmente os Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No Estado, há uma grande dependência do milho para alimentação do rebanho, estimado em 2,6 milhões de cabeças, somente entre bovinos e bubalinos, à medida em que a forragem, produzida pelas fracas quadras chuvosas, são insuficientes. Com a seca registrada de 2012 a este ano, houve uma mortandade de cerca de 100 mil bovinos, uma redução de 3,5% do rebanho.
Açudes
O titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Dedé Teixeira, chegou a falar com os jornalistas. Ele explicou que o motivo do encontro acontecer a portas fechadas, deveu-se "à necessidade de discussão interna de alguns pontos".
O secretário informou que medidas de convivência com a seca, deverão ser anunciadas pelo governador Camilo Santana, logo após o anúncio do prognóstico da quadra chuvosa, pela Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), que deverá acontecer hoje, a partir das 9 horas, no Palácio da Abolição, sede administrativa do governo do Estado.
Atualmente, 176 dos 184 municípios cearenses têm decretos de estado de emergência por consequência da estiagem. A situação dos açudes preocupa, pois nos 149 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), há disponíveis somente 20,3% da capacidade de armazenamento de água, havendo várias regiões do Estado em que o sistema de reservatórios está abaixo dos 10%.
De acordo com o monitoramento, o quadro de reservas hídricas mais grave está nos Sertões de Crateús. O reservatório com maior capacidade de armazenamento de água é a barragem do Batalhão, atualmente com 5,65%. Na Bacia do Curu, os açudes de Itapajé, no município, e Caxitoré, em Umirim, são os com maiores reservas, apresentando, respectivamente, 6,75% e 6,11%. O açude do Castanhão, maior reservatório do Estado, detém, atualmente 24,91%; e o Gavião, que integra o sistema Pacoti/Riachão/Gavião, que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza, está com 93,47% de sua capacidade.

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