5 de fevereiro de 2014

COMPRADORES EUROPEUS Melão e banana do CE podem perder mercado

Image-0-Artigo-1538579-1Berlim O Brasil, principalmente o Ceará, poderá perder o mercado europeu de frutas tão duramente conquistado. Desde o dia primeiro de janeiro deste ano, as frutas brasileiras - o melão, a melancia e a banana cearenses, em primeiro plano - estão pagando uma taxa de 8,5% por contêiner que entra nos portos da Europa. Se não fosse a alta cotação do dólar, que disparou nos últimos meses, a exportação brasileira de frutas estaria inviabilizada. Em 2013, a Holanda puxou as vendas externas do Ceará no setor.
Empresários cearenses do agronegócio - pedindo o anonimato - culpam "a inércia e da diplomacia brasileira" pela situação de perigo por que passa a fruticultura do Brasil, destacadamente a do Nordeste - a do Ceará no meio. Segundo eles, faz quase seis anos que o Itamaraty, assessorado pelo Ministério da Agricultura, tenta um acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia, "mas a posição Argentina, intransigente em vários pontos, tem frustrado todas as tentativas de êxito". Resultado: cansados de esperar por esse acordo, os europeus sobretaxaram os produtos da fruticultura brasileira.
"Para o Brasil, a melhor saída será deixar a Argentina de lado e seguir o caminho tomado pelo Paraguai, que já celebrou acordo bilateral com vários países, inclusive os europeus, independentemente da posição do Mercosul. A consequência dessa inércia brasileira é a situação que hoje enfrentamos, agravada pela cobrança do Imposto de Importação europeu sobre as nossas frutas, que subiu de 5,5% para 8,5%. Se o dólar não tivesse disparado, já teríamos deixado de exportar" - comentou um exportador cearense.
Neste momento, a fruticultura do Ceará - e isto vale para a do Nordeste - enfrenta três problemas: o primeiro é a seca, que em 2013 reduziu a produtividade; o segundo é o custo do frete, que em 2013 teve uma alta de 20% a 25% imposta pelas companhias de navegação CMA, Hamburg Sud e Maersk; e o terceiro e mais grave problema é a o imposto europeu, que passou a ser cobrado desde o dia primeiro de janeiro deste ano. "No caso do melão, essa taxação significa 700 a 750 euros por contêiner" - lamenta a mesma fonte, que antevê o futuro próximo: "Vamos perder mercado para os países da América Central. A Costa Rica e a Guatemala, por exemplo, já reduziram a área plantada de outras frutas para cultivar o melão, que tem mais alto valor agregado. Por que ele sertão tomando essa atitude? Porque as frutas da América Central pagam zero de imposto na Europa. Diante disso é fácil enxergar o que vai acontecer".
Nova seca
Além desses problemas de ordem econômica causados pela falta de um acordo de livre comércio do Brasil com a União Europeia (UE), há outra grave preocupação dos fruticultores cearenses: a possibilidade de uma nova seca neste ano. A Funceme já prognosticou "chuvas abaixo da média histórica", o que significa que os grandes açudes - como o Orós e o Castanhão - não verterão. Para agravar o quadro, hoje, no Médio e no Baixo Jaguaribe, onde se localizam as fazendas produtoras e exportadoras de melão, melancia e banana, os poços profundos estão a produzir menos água porque o nível do lençol freático foi reduzido como consequência das poucas chuvas de 2013.
Com tudo isso na sua bagagem, os empresários cearenses do agronegócio desembarcaram ontem em Berlim, onde hoje será aberta mais uma Fruit Logística - a maior feira de frutas do mundo. O evento junta, durante três dias, produtores, exportadores e importadores dos cinco continentes. "Os importadores europeus conhecem o que se passa no Brasil e, principalmente, no Ceará", disse outro fruticultor cearense. Falando ao Diário do Nordeste, ele está prevendo "uma negociação difícil para a próxima safra".
Com as empresas de transporte marítimo, cujos navios escalam os portos de Pecém e Mucuripe, as tratativas dirão respeito à necessidade de redução do preço do frete para fazer face à nova taxação estabelecida pela UE. "Teremos de obter uma redução no preço do frete marítimo, que subiu muito no ano passado. Se isso não for possível, teremos de torcer para que o dólar siga subindo, mas aí será quase como desenhar o apocalipse" - finalizou o empresário.

Nenhum comentário: