7 de dezembro de 2013

Atraso na obra da transposição causa prejuízos no percurso

A lentidão na abertura dos canais de transposição do rio São Francisco causou prejuízo a empresários de cidades que tiveram a economia aquecida pela migração de milhares de trabalhadores no auge das obras, de 2007 a 2011.
Nesses municípios, empresários investiram em negócios, como restaurantes e hotéis, confiando na manutenção do ritmo das obras e na mudança da realidade local graças à oferta de água.
Nenhum deles esperava, no entanto, que as obras seriam paralisadas tão rapidamente e por tanto tempo. Em alguns lugares, o serviço ficou parado por mais de ano.
As obras dos dois canais da transposição começaram em 2007 e deveriam ter acabado no ano passado. O governo federal afirma que concluirá o serviço em 2015.
Projetos básicos imprecisos exigiram a realização de novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço por parte das empreiteiras. Os únicos trechos prontos são dois lotes realizados pelo Exército.
Quando prontos, os canais levarão água do rio São Francisco a quatro Estados (Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte).
Em Custódia (PE), José Pedro de Melo, 58, tinha 15 quartos em seu hotel. Investiu R$ 3 milhões, chegou a 97 apartamentos, construiu cozinha industrial, padaria e uma venda. Hoje, só consegue ocupar 50% de seu empreendimento. Parte da clientela são romeiros com destino a Juazeiro do Norte (CE).
Pelas ruas de Custódia, placas de “aluga-se” preenchem postes e fachadas. A prefeitura estima em 300 os imóveis fechados sem que os donos consigam alugá-los.
Prejuízo de R$ 60 mil
343582-970x600-1Em outubro de 2009, o então presidente Lula citava Eliane Lisboa, 39, de Floresta (PE), como exemplo da prosperidade motivada pelas obras da transposição do rio São Francisco. “Ela já montou empresa e serviu até 400 refeições por dia”, disse ele. Quatro anos depois, a paralisação e a lentidão nas obras mudaram tudo. Endividada, ela mantém uma estrutura mínima à espera da retomada das promessas do governo.
Trabalhava na roça e vendia coxinha e pastel para uma escola. Era coisa pouca.
O Exército chegou aqui em 2007. No outro dia, pedi ao coronel permissão para vender pastel. Peguei R$ 50 emprestado com um afilhado. À tarde, já estava vendendo pastel e refrigerante a R$ 1. Apurei R$ 35. Fiquei feliz.Abri o restaurante em 2008. Todas as empresas da transposição passaram por aqui. Servia 27 refeições por dia. Cheguei a 400 em 2009.
Quando estava muito bom, faturei R$ 100 mil num mês. Lembro de ter pago R$ 5.000 de Imposto de Renda.
Na época, conversando com [o ex-presidente] Lula, ele disse que eu estava pagando mais imposto que ele.
Quando a obra estava bem mesmo, começaram a demitir um monte de gente, acho que em 2011. Cheguei ao ponto de servir três refeições só para manter o negócio.
Hoje não tenho compromisso com nenhuma empresa. Elas estão voltando, mas ainda não consegui [contratos]. Vendo mais para o pessoal da roça do que da transposição. Isso quando aparece cliente.
Eu, que investia todo dinheiro que entrava –comprava mesas, freezers, balcão de lanche, panelas enormes–, hoje estou com o nome sujo na praça. Levei muito calote. Isso foi o pior de tudo.
Minha dívida é de R$ 60 mil, mas já foi de R$ 100 mil. Quase perdi o carro. Tenho dívida grande de energia e temo que cortem a luz. Faço faculdade de pedagogia, mas não estou conseguindo pagar [a mensalidade de R$ 150].
Não vendi nada do que comprei, na expectativa [de retomada das obras]. Vou esperar até o próximo ano. Em 2014, com eleição, quem sabe as coisas andam. Se até junho nada acontecer, não acontece mais.

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