Traficantes aproveitam o caos em que está mergulhado o Haiti, após o terremoto, para roubar órfãos
Porto Príncipe. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) denunciou, ontem, o rapto de pelo menos 15 crianças em hospitais do Haiti, país devastado por um terremoto de magnitude 7 no último dia 12.
"Infelizmente constatamos o rapto de 15 crianças em diferentes hospitais do Haiti e suspeitamos de que foram sequestradas por redes de tráfico de pessoas por meio de Santo Domingo, na República Dominicana", afirmou Jean-Claude Legrand, assessor de proteção da infância do Unicef.
A metade da população do país caribenho - que já antes do terremoto era o mais pobre do continente americano - é de menores de 18 anos. O Unicef estima que 2 milhões de crianças tenham sido afetadas pelo terremoto e apoiou a saída rápida dos menores cujos processos de adoção foram concluídos antes da tragédia, mas advertiu que "qualquer precipitação pode ser prejudicial".
Segundo Legrand, o tráfico de crianças já existia no Haiti antes do terremoto, com vínculos com redes internacionais de adoção ilegal. Os traficantes, contudo, aproveitam tragédias como o terremoto para roubar crianças que ficaram órfãs ou cujos parentes ainda não foram encontrados.
"Tivemos o mesmo problema no tsunami", comparou Legrand, se referindo a onda que atingiu a Ásia em 2004. "Estas redes se ativam assim que ocorre uma catástrofe e aproveitam a debilidade na coordenação dos responsáveis no local para sequestrar as crianças e tirá-las do país", acrescentou.
Ontem, 32 crianças haitianas, entre um e quatro anos, que foram adotadas por famílias francesas, deixaram o país, anunciou o embaixador francês em Porto Príncipe, Didier Le Bret. O diplomata informou que, depois desta primeira partida, "haverá outra em breve, de 50 crianças cujo processo de adoção está quase concluído".
Na última segunda-feira, o Unicef afirmou que a adoção internacional de crianças haitianas é considerada "a última opção". "Nossa política é tentar a todo custo encontrar parentes da criança, e conseguir a reunificação familiar. A adoção é vista como a última opção, quando todas as outras tiverem fracassado", disse a porta-voz do Unicef, Veronique Taveau.
Três importantes organizações não-governamentais (ONGs) também pediram que sejam atrasadas as novas adoções. A Save The Children, a World Vision e a Cruz Vermelha Britânica defenderam uma paralisação nos processos até que sejam realizados todos os esforços possíveis para reunir as centenas de milhares de crianças separadas de suas famílias.
Segundo o Ministério do Interior haitiano, 111.499 pessoas morreram no terremoto. Esta é a primeira vez que autoridades confirmam um número de vítimas superior a 100 mil pessoas, por mais que o número fosse previsível segundo o governo. Líderes do país chegaram a indicar que podem chegar até a 200 mil mortos.
FONTE DN
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